sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Criada a Universidade da Integração Latino-americana

A lei que cria a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) foi sancionada nesta terça-feira, 12, pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília.
A Unila terá proposta acadêmica inter e transdisciplinar, com aulas bilíngues em português e espanhol. Metade dos professores e alunos será de brasileiros e a outra metade virá de outros países da região. A intenção é atender 10 mil alunos até 2015. O primeiro processo seletivo deve ocorrer no segundo semestre deste ano.
Na visão do ministro da Educação, Fernando Haddad, além de atrair alunos de todo o continente ao Brasil, a universidade pretende formar cidadãos capazes de pensar todas as áreas do conhecimento a partir da perspectiva da integração.
“A título de exemplo, queremos que o bacharel em direito não apenas domine o ordenamento jurídico nacional, mas tenha preparo para compreender o ordenamento dos países latino-americanos e saber pensar maneiras de integração entre os países. Isso vale para economia, relações internacionais, bioenergia”, exemplificou.
Haddad lembrou que a universidade é a 13ª nova instituição de educação superior criada pelo atual governo. “Havia 43 instituições em 2002 e agora são 56. Superamos a marca de JK, que havia criado 10 universidades”, comemorou, em referência ao governo do ex-presidente Juscelino Kubitschek. De acordo com o ministro, os investimentos em educação superior foram combinados a aplicação de recursos federais nos demais níveis e etapas da educação.
“Passamos de um orçamento de R$ 20 bilhões para R$ 50 bilhões. Isso deu sustentação aos investimentos feitos também na educação profissional e na educação básica”, avaliou.
Para o governador do Paraná, Roberto Requião, a universidade amplia a oferta de educação superior de qualidade no estado. “Tínhamos apenas uma federal. Agora temos a presença do instituto federal de educação profissional e tecnológica e a Unila”, disse.
A instituição funcionará provisoriamente nas instalações da usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR). “O projeto arquitetônico, que é de Oscar Niemeyer, já está pronto para licitar. A nossa urgência agora é terminar o projeto pedagógico com quatro eixos: integração no plano da cultura, das instituições, da biociências e da integração física”, explicou Haddad. Até o final de janeiro, o projeto pedagógico deve ficar pronto e, em seguida, haverá concursos para contratação de técnicos e professores.
A seleção dos alunos brasileiros deve ocorrer a partir das notas dos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os alunos estrangeiros passarão por avaliação semelhante a ser realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
http://www.capes.gov.br/servicos/sala-de-imprensa/36-noticias/3503-lula-sanciona-lei-que-cria-a-universidade-da-integracao

domingo, 3 de janeiro de 2010

Parlasul e governança virtual

Publicado no Jornal do Commercio, de Pernambuco, em 24.12.2009

Evandro Carvalho

Marília Maciel

A eleição direta para o Parlamento do Mercosul (Parlasul), em 2010, está de molho. Os congressistas brasileiros ainda não decidiram se a sociedade brasileira terá o direito de eleger seus representantes no Parlasul. O fato de o próprio Mercosul ser uma organização ainda desconhecida de grande parte da população brasileira contribui para o adiamento desta decisão.

Para reverter este cenário, é preciso que o Mercosul se dê a conhecer. A Secretaria de Comunicações do Parlasul deu um passo importante nesse sentido ao realizar, no final de novembro, um seminário sobre Integração Regional, Representação e Comunicação. O objetivo era estreitar os laços com os meios de comunicação dos países do Mercosul visando fomentar a visibilidade do Parlasul e promover os seus vínculos com a sociedade civil. A iniciativa vem em boa hora, porém, tem algumas limitações.

A primeira delas é o seu público alvo: se permanecer restrita aos profissionais das grandes mídias, a informação sobre o Mercosul poderá ser demasiadamente seletiva. Basta ver que o assunto Mercosul raramente ocupa espaço entre os noticiários. A segunda limitação é o seu alcance: este seminário não possibilitou a participação online dos cidadãos do Mercosul, algo de suma importância, pois a sede do Parlasul encontra-se em Montevidéu, portanto, fora do alcance da maioria da população dos quatro países membros. Em terceiro lugar, ao restringir os canais pelos quais pode-se ter acesso ao debate público sobre o Parlasul, os termos deste debate, apesar de poderem ser mais controláveis, poderão ser menos representativos das demandas das populações. É isto o que se quer?

Para dar visibilidade e legitimidade ao Parlasul - e ao processo de integração - deve-se investir em duas vertentes. A primeira é a transparência do bloco, tornando públicas as reuniões e provendo informação objetiva e tempestiva no site oficial do Mercosul. A segunda vertente é a promoção do contato direto dos parlamentares com os cidadãos mercosulinos. Os recursos da internet são aliados indispensáveis, mas o Mercosul faz pouco uso de ferramentas de web 2.0. Neste ano, lançou-se o WikiProjeto Mercosul com o objetivo de melhorar e ampliar os artigos relacionados ao Mercosul na Wikipédia. Há também uma parceria entre a União Europeia e o Mercosul que deu origem ao projeto Mercosul digital visando disseminar as tecnologias de informação e comunicação. Não há qualquer referência a estas iniciativas no portal oficial do Mercosul, desperdiçando a oportunidade de aproveitar as ferramentas digitais para promover a participação cidadã no processo decisório no âmbito do Mercosul.

Quando há transparência e um constante fluxo de informações, encontram-se presentes as principais condições para o envolvimento dos cidadãos nas decisões políticas. O bom uso dos sites e de ferramentas de web 2.0 é um fator relevante para atingir ambos os objetivos no âmbito regional. O Parlasul não tem outro meio de se legitimar perante a opinião pública senão criando as condições para uma governança eletrônica no Mercosul.

» Evandro Carvalho é professor da FGV-Rio

» Marília Maciel é pesquisadora da FGV-Rio

Parlasul e governança virtual

Publicado no Jornal do Commercio, de Pernambuco, em 24.12.2009

Evandro Carvalho

Marília Maciel

A eleição direta para o Parlamento do Mercosul (Parlasul), em 2010, está de molho. Os congressistas brasileiros ainda não decidiram se a sociedade brasileira terá o direito de eleger seus representantes no Parlasul. O fato de o próprio Mercosul ser uma organização ainda desconhecida de grande parte da população brasileira contribui para o adiamento desta decisão.

Para reverter este cenário, é preciso que o Mercosul se dê a conhecer. A Secretaria de Comunicações do Parlasul deu um passo importante nesse sentido ao realizar, no final de novembro, um seminário sobre Integração Regional, Representação e Comunicação. O objetivo era estreitar os laços com os meios de comunicação dos países do Mercosul visando fomentar a visibilidade do Parlasul e promover os seus vínculos com a sociedade civil. A iniciativa vem em boa hora, porém, tem algumas limitações.

A primeira delas é o seu público alvo: se permanecer restrita aos profissionais das grandes mídias, a informação sobre o Mercosul poderá ser demasiadamente seletiva. Basta ver que o assunto Mercosul raramente ocupa espaço entre os noticiários. A segunda limitação é o seu alcance: este seminário não possibilitou a participação online dos cidadãos do Mercosul, algo de suma importância, pois a sede do Parlasul encontra-se em Montevidéu, portanto, fora do alcance da maioria da população dos quatro países membros. Em terceiro lugar, ao restringir os canais pelos quais pode-se ter acesso ao debate público sobre o Parlasul, os termos deste debate, apesar de poderem ser mais controláveis, poderão ser menos representativos das demandas das populações. É isto o que se quer?

Para dar visibilidade e legitimidade ao Parlasul - e ao processo de integração - deve-se investir em duas vertentes. A primeira é a transparência do bloco, tornando públicas as reuniões e provendo informação objetiva e tempestiva no site oficial do Mercosul. A segunda vertente é a promoção do contato direto dos parlamentares com os cidadãos mercosulinos. Os recursos da internet são aliados indispensáveis, mas o Mercosul faz pouco uso de ferramentas de web 2.0. Neste ano, lançou-se o WikiProjeto Mercosul com o objetivo de melhorar e ampliar os artigos relacionados ao Mercosul na Wikipédia. Há também uma parceria entre a União Europeia e o Mercosul que deu origem ao projeto Mercosul digital visando disseminar as tecnologias de informação e comunicação. Não há qualquer referência a estas iniciativas no portal oficial do Mercosul, desperdiçando a oportunidade de aproveitar as ferramentas digitais para promover a participação cidadã no processo decisório no âmbito do Mercosul.

Quando há transparência e um constante fluxo de informações, encontram-se presentes as principais condições para o envolvimento dos cidadãos nas decisões políticas. O bom uso dos sites e de ferramentas de web 2.0 é um fator relevante para atingir ambos os objetivos no âmbito regional. O Parlasul não tem outro meio de se legitimar perante a opinião pública senão criando as condições para uma governança eletrônica no Mercosul.

» Evandro Carvalho é professor da FGV-Rio

» Marília Maciel é pesquisadora da FGV-Rio